Há 28 anos estava eu ao serviço do semanário “Comércio Actualidade” como redactor-repórter.
A direção daquele saudoso hebdomadário mandou-me como “Enviado Especial” para cobrir a retomada da capital do Planalto Central pelas Forças Armadas Angolanas(FAA), depois da atroz e famosa “Guerra dos 55 Dias do Huambo”, que opunha o Governo à UNITA naquela região do País.
A “Guerra dos 55 Dias do Huambo” foi uma consequência da refrega pós-eleitoral de Outubro de 1992.
Huambo era a principal praça eleitoral da UNITA e o seu segundo bastião, depois da Jamba. Retomar o Huambo era uma questão de honra e orgulho para o Governo.
Encontrei a então “Cidade Vida” com os seus fantasmas e medos. As marcas da guerra saltavam à vista. Eram, aliás, o principal cartão-de-visitas da então Nova Lisboa. Não havia luz na cidade. As orvalhadas da madrugada faziam-me tremer de frio.
As estradas das principais avenidas estavam esburacadas. Ou seja, as estradas estavam em buracos. Quer dizer, não eram bem buracos. Eram crateras.
Não havia casa que tivesse ficado incólume a projecteis durante a refrega militar.
As pessoas estavam tristes, cansadas da guerra e necessitadas de tudo. Mas a cidade já despertava com o seu bulício. Era a ressureição da “Cidade Vida”.
Paulo Kassoma era o ínclito e pro-activo governador de uma província que, qual Fênix, se preparava para renascer das cinzas.
A UNITA, esta, tinha recuado para o Bailundo e perdido a cidade para as FAA. O objectivo de repor a Administração do Estado tinha sido alcançado com sucesso pelo Governo. Embora este se tenha visto grego para alcançar o seu desiderato.
Foi o jornalista Kito Neves, delegado da Angop, que me recebeu e me ciceroneou pela cidade. Palmilha-mo-la na garupa da sua moto Kawasaki, cor vermelha.
Na minha agenda de reportagem, constava, entre outros assuntos, uma entrevista com o padre Luís Konjimbe.
Entrevistei-o no arcebispado local dois dias depois da minha chegada e de vários prévios contactos viabilizados pelo Kito Neves, de grada memória.
No decurso da entrevista, dada à estampa no extinto “Comércio Actualidade”, o padre Luís Konjimbe fez uma afirmação que retive e de que nunca mais me esqueci até aos dias de hoje: “por detrás das armas está o medo”.
O tempo já lá vai. O padre Luís Konjimbe já está numa outra dimensão. Mas a sua frase mantém-se lapidar, actual e ainda ecoa na minha mente.
Olhando para a excessiva e desnecessária demonstração de força da Polícia Nacional e da Unidade da Guarda Presidencial (UGP), hoje , 17 de Junho, nas ruas de Luanda, com o fito de intimidar os manifestantes, sou impelido a concluir o seguinte: o Poder está mesmo com medo…do povo!
Portanto, o padre Luís Konjimbe tinha razão: por detrás das armas está (sempre) o medo…dos cobardes, acrescento eu.
Por: Jorge Eurico